“Na arte o homem se reconhece, encontra seus pensamentos e seus sentimentos, ao mesmo tempo que faz aquilo o que o cerca e que não é ele. A dualidade irredutível de sua dupla experiência externa e interna se encontra, enfim resolvida.” (René Huygle, 1967).
Quando vivenciamos os processos da arte, o homem encontra meios de se resolver internamente e compreender o mundo em sua volta.
A partir dessa idéia, a arte vem proporcionar um meio eficaz para uma aplicação mais direcionada a determinados objetivos terapêuticos, constituindo um diferencial em relação a outras terapêuticas.
Observando esses processos poderemos direcionar os pacientes a realizar certos movimentos de “cura” ou pelo menos a aliviar seus problemas, bem como promover autoconhecimento através de suas expressões. Curar vem do latim, curare, que é cuidar, tratar, é livrar da doença, restabelecer a saúde, sarar, e curar é também branquear, expondo ao sol, corar.
Selma Ciornai, no seu livro Percusos em arteterapia, diz: “Tanto na arte quanto na terapia manifesta-se a capacidade humana de perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os outros e com o mundo, retirando a experiência humana da corrente rotineira e por vezes automática do cotidiano, colocando-a sob luzes novas e estabelecendo novas relações entre seus elementos, misturando o velho com o novo, o conhecido com o sonhado, o temido com o vislumbrado, trazendo assim novas integrações, possibilidades e crescimento” (CIORNAI, 2004. p.36)
Como escreve o Dr. Liomar Quinto de Andrade “Além de uma função social, a arte pode ter uma função terapêutica, pois não apenas o artista estrutura seu mundo interior e o expressa por uma simbolização que é a obra, como o público participante tem possibilidade de dispor da própria emoção.” (Andrade, 1993,p.7)
A arteterapia procura juntar essas duas atividades: o fazer arte, enquanto expressão humana e o fazer terapia, explicando que fazer terapia é estar assistido, acompanhado por um profissional de uma terapêutica especifica. É estar fazendo um tratamento especifico.
Em palavras bem simples, defino arteterapia como fazer arte, com objetivos terapêuticos de restabelecer a saúde, o equilíbrio físico, mental e emocional; prevenção através do autoconhecimento, alívio às dores (dor como um todo, física, emocional e espiritual) e proporcionar melhor qualidade de vida.
O que é totalmente diferente de quando se faz arte pela arte, em que o objetivo é estético, cultural, técnico e profissional, que carrega fortes aspectos do momento histórico que o artista vive, com suas indagações, reflexões filosóficas, com criação e linguagem estética pessoal . Na arteterapia, o sujeito expressa, se comunica com o mundo e coloca suas impressões e idéias também, mas não tem efeito social, filosófico, manifestativo e profissional. O efeito é pessoal, de prevenção e compreensão dos seus conflitos internos. A busca é a de se restabelecer como um ser fortalecido, equilibrado, integrado, organizado e centrado dentro do seu contexto social, familiar e pessoal.
Então arteterapia é usar dos meios e processos que o fazer arte implica e influencia no ser humano, mas direcionado para um tratamento global humano, físico, psicológico e espiritual.
Segundo Fayga Ostrower , "Os processos criativos são processos construtivos globais. Envolvem a personalidade toda. Criar é tanto estruturar quanto comunicar-se, é integrar significados e transmiti-los. Ao criar procuramos atingir uma realidade mais profunda do conhecimento das coisas. Ganhamos concomitantemente um sentimento de estruturação interior maior, sentimos que estamos nos desenvolvendo em algo essencial para o nosso ser. " (Ostrower, 1977,p.142 )
Portanto a criatividade, aspecto essencial do fazer arte, é um processo integrante e construtivo do ser, que potencializa suas forças psíquicas equilibrantes.
A figura do profissional formado em arteterapia é fundamental neste processo. A pessoa, o arteterapeuta e a arte formam o tripé neste tipo de trabalho. Este profissional deve dominar as áreas da arte como terapia; ter o conhecimento sobre desenvolvimento humano; teorias psicológicas; prática clínica, artística e sobre o potencial terapêutico da arte; ética profissional, e processos criativos.
Dentro da arteterapia são várias as abordagens psicológicas, dependendo da formação do profissional. Estas podem ser gestáltica, junguiana, psicanalítica e antroposófica.
Arteterapeutas podem trabalhar com pessoas de todas as idades, indivíduos, casais, famílias, grupos e comunidades. Oferecem seus serviços individualmente e/ ou como parte de uma equipe de profissionais, em contextos que incluem saúde mental, reabilitação, instituições médicas, legais, centro de recuperações, programas comunitários, escolas, instituições sociais, empresas, ateliês, hospitais e pratica privada. (AATA, em Ciornai 2004 pg 8)
Hoje a arteterapia está sendo reconhecida no Brasil, já tendo um órgão nacional; a UBAAT (União Brasileira das Associações de Arteterapia), que orienta, estabelece e regula as normas específicas e éticas dos arteterapeutas,. Esta entidade é formada pelas associações representativas dos estados membros. (http://www.ubaat.com.br/) .
Para ser denominado arteterapeuta é preciso seguir os regulamentos desta associação.
O arteterapeuta, então, deve conhecer e vivenciar, o pintar, desenhar, modelar, colar,dançar, representar, enfim, ter contato com diversas técnicas artísticas para que ele possa saber como e quando são feitas as intervenções, além da utilização de determinadas técnicas e seus porquês. O arteterapeuta precisa ter flexibilidade, percepção, criatividade e sensibilidade com relação ao seu cliente, deixando-o se expressar e buscar seus próprios meios de individuação. É acompanhar o processo do paciente e ser testemunha de sua busca, ajudando-o a superar os obstáculos, a encontrar um acolhimento que possibilite expressar suas emoções e sentimentos,proporcionar a comunicação não verbal,pois esta muitas vezes fica impossibilitada pela desordem e desequilíbrio mental.
Desenvolver as capacidades cognitivas como memória, concentração, reflexão e criatividade, também é uma das possibilidades da arteterapia..
O arteterapeuta não interpreta as imagens simbólicas do trabalho artístico do seu cliente, mas o incentiva a descobrir seus significados nas seus trabalhos expressivos focando atenção no processo terapêutico. Isso não é geral mas é característico e típico da abordagem gestáltica. Já as abordagens analíticas não são bem assim.
Também não deve explicar o trabalho ao paciente, mas tentar ajudá-lo, refletindo e questionando sobre vários aspectos internos que isso provoca e que lhe trouxe de lembrança.
O arteterapeuta deve fornecer todas as possibilidades em seu ateliê para que o paciente consiga expressar as suas inquietações e necessidades. Deixando experimentar, descobrir, conhecer objetos, materiais, texturas, formas, cores. Tudo isto faz desta uma atividade lúdica, sem obrigações e pressões para um resultado. E propiciando uma expressão rebelde e reveladora, neste brincar, pode se estar contribuindo com criativas fantasias.
Quando uma criança faz uma máscara, ela pode estar revelando seus sentimentos internos, como pode estar buscando um poder de cura, ou proteção ou ainda construindo ou reconhecendo sua identidade. Ou tudo isso, ao mesmo tempo. Quando uma pessoa modela com barro uma forma, ela libera seus sentimentos reprimidos, concretizando-os, construindo uma realidade que antes era invisível ou incompreensível, trazendo à consciência sua desordem interna. Ou quando uma pessoa se expressa criativamente ela pode estar se colocando ao mundo e rompendo barreiras das quais antes ela tinha medo ou insegurança, deixando-a mais segura e fortalecida para enfrentar o mundo.
À medida que, o participante em arteterapia, vai reconhecendo e desenvolvendo seus potenciais , experimentando o belo, o prazer, a satisfação da criação, valorização de si, reconhecimento e enfrentamento de seus conflitos,automaticamente aumenta a auto-estima, o humor e o fortalecimento de seu ego. E, conseqüentemente, no aumento da imunidade, trazendo alívio da dor, melhor qualidade de vida, auxiliando e potencializando juntamente com outros tratamentos, sua reabilitação, aumentando a chances de curas.
Uma pessoa que desenvolve o autoconhecimento pode enfrentar melhor seus conflitos e relacionamentos sociais e pessoais.
Portanto, fazer arte traz muita satisfação, alegria, encontro e descoberta de si mesmo, desencadeando um processo terapêutico.
Sou arteterapeuta desde 1988, quando tinha uma escolinha de arte infantil na minha cidade Mogi das Cruzes, em São Paulo. Alguns psicólogos me encaminhavam crianças com necessidade de um trabalho focado na criatividade, como processo terapêutico. Desde lá venho trabalhando em várias instituições, clinica de apoio psicossocial para portadores de câncer avançado, Hospital da Penitenciaria do Carandiru, coordenei o primeiro SPA Artístico do país, em Gramado e atualmente trabalho na APAE e no meu atelier terapêutico, Espaço Humanus (rua Carlos Lengler Filho, 123, em Gramado/RS). Fiz especialização em arteterapia Junguiana, em 2000 (São Paulo), e outros cursos com fundamentos em arteterapia Gestáltica, em Porto Alegre.
Minha abordagem é junguiana quando uso as imagens simbólicas e os conceitos de inconsciente , self e arquétipos. É gestáltica quando trabalho com os processos criativos, estéticos e expressivos dentro de uma visão fenomenológica e existencialista.
Sou uma das arteterapeutas que fazem parte da comissão organizadora do VIII Congresso Brasileiro de Arteterapia, que acontecerá no Hotel Laje de Pedra, em Canela/RS, entre os dias 12 e 15 de novembro deste ano. O tema será CONHECER E RECONHECER, abordar e discutir a profissão e o reconhecimento dela. Serão quatro dias de encontros de arteterapeutas de todo o Brasil e outros profissionais interessados em compreender a nova profissão, que desde os anos 40 existe e é reconhecida fora do Brasil. Aqui já são mais de 20 anos de atuação e somente agora começa a ser valorizada e aceita. Hoje temos concursos públicos no Espírito Santo, Brasília e Goiás, onde convocam arteterapeutas na área da saúde e educação. No Estado do Rio Grande do Sul, arteterapeutas trabalham em hospitais psiquiátricos, ambulatoriais, centros para idosos, presídios, clinicas, APAEs, CAPS, FASC, AACD, Institutos de câncer infantil, escolas e organizações comunitárias e algumas empresas com objetivos de proporcionar qualidade de vida aos funcionários, diminuição de estresse, motivação, criatividade como integração social na empresa.
Texto escrito por Kira Burro
AATERGS- 018
Um comentário:
Kira,
o lugar mais adequado não é este, mas quero te avisar que estou planejando passar o NATAL de 2008 aí no seu HOTEL. Com minha neta e filhos.... Falaremos mais próximo. Qual a data limite para reservas?
Bjs
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